Os condutores militares desempenharam um papel muito importante na guerra colonial e eram dos que estavam mais expostos ao perigo, porque nas emboscadas às colunas motorizadas eram o alvo principal a abater.
A sua preparação nem sempre era a melhor, porque antes de ingressarem na vida militar poucos tinham carta de condução e o tempo de formação para condutores era muito reduzido. Evidentemente que também havia quem já tivesse carta de condução na vida civil, mas isso era a excepção. A esmagadora maioria nunca tinha conduzido uma viatura antes de ter ido para a tropa.
Apesar de todas estas limitações, pode considerar-se que a evolução e o desempenho dos condutores da CART 2731 foram excepcionais, embora no ínicio da comissão tivessem surgido ocasionalmente algumas dificuldades, como seria de esperar.
Uma das missões que a CART 2731 tinha a seu cargo era a de dar protecção a MVL's (movimentos de viaturas logísticas), efectuados quinzenalmente, às terças-feiras, entre o Luso (actualmente Luena) e Gago Coutinho (actualmente Lumbala Nguimbo), num percurso de mais de 400 quilómetros de picada, em que as minas eram o principal perigo.
Numa dessas missões, o Comandante da CART 2731 ia integrado na escolta e deslocou-se num dos unimogs, sentado ao lado do condutor. A fotografia, cedida pelo António Andrade, ex-condutor da CART 2731, é de um dos unimogs que habitualmente participava nessas missões. A viagem decorreu normalmente, mas quando estavam a chegar a Gago Coutinho, a pouco mais de 500 metros do quartel, o Comandante ordenou ao condutor que parasse imediatamente e que fizesse alguns metros de marcha atrás. Porquê meu Comandante?, perguntou o condutor. Resposta, é para passares por dentro daquele buraco que ficou ali atrás. Então do Luso até aqui não falhaste um único buraco, ias, agora que estamos a chegar, falhar este? Obviamente que não vou citar aqui o nome do condutor, mas se ele ler esta história sabe de quem estou a falar.
Franquelino Santos
Ex furriel miliciano - CART 2731
Angola, 1971