Ambriz


Ambriz é um município da província do Bengo, em Angola, com sede na vila da mesma designação. Tem 4 204 km² e cerca de 17 mil habitantes. É limitado a Norte pelo município de N'Zeto (antigo Ambrizete), a Este pelo município de Nambuangongo, a Sul pelo município do Dande e a Oeste pelo Oceano Atlântico.

Dista cerca de 175 quilómetros de Luanda. A vila de Ambriz, situada na margem esquerda do rio Loge, é o principal porto de mar de escoamento do café produzido no norte de Angola, nomeadamente no Zaire e no Uíge. A economia do município do Ambriz assenta principalmente na produção de algodão, café, coconote e óleo de palma e na extração de sal.

A região de Ambriz foi ocupada pela administração portuguesa somente a partir de 1840.

A CART 2731 foi transferida de Luvuei para Ambriz, em Junho de 1971, onde fomos encontrar uma vila muito simpática que, pensávamos nós, iria proporcionar-nos um resto de comissão bastante agradável. Mulatinhas simpáticas, praia, cinema, restaurantes, cafés, boas lagostas, futebol de onze e de salão, eram os nossos passatempos, entre outros. Embora a Companhia tenha ficado instalada num antigo hospital, que servia de quartel, alguns dos graduados, por falta de espaço e condições no quartel, tiveram de se instalar em casas particulares, alugadas para o efeito.

No que respeita ao desporto, para além dos torneios de futebol de salão que disputámos com equipas de outras unidades militares, disputámos alguns jogos de futebol de onze contra a equipa local, o Clube Recreativo do Ambriz, que terminaram todos com a vitória da equipa da CART 2731. O último desses jogos foi disputado em 1 de Agosto de 1971 e terminou com um conclusivo 4 - 1. Segundo nos informaram, a equipa do Clube Recreativo do Ambriz já não perdia com equipas militares há vários anos, mas a nossa equipa contava com bons jogadores, alguns deles, antes do ingresso na vida militar, jogavam em algumas das equipas mais representativas da Madeira, designadamanente no Nacional e no Marítimo.

A praia era outro dos passatempos preferidos. Alguns quilómetros de areal, um mar muito calmo, águas muito límpidas e óptima temperatura da água proporcionavam-nos bons momentos de lazer. A praia escondia, contudo, alguns perigos para os menos prevenidos. Na verdade, apesar de não ser muito frequente, os pescadores locais costumavam capturar pequenos tubarões, a pouco mais de 200 metros da praia. Assim, havia necessidade de tomar algumas precauções quando íamos à água, nomeadamente não nos afastarmos muito da praia.

No que respeita à actividade militar, a Companhia fazia alguns patrulhamentos na zona e tinha dois destacamentos a seu cargo, um no Capulo, junto à costa, e outro em Freitas Morna, junto à ponte do Rio Loge, na estrada de Ambriz para Ambrizete. No rio Loge, a cerca de 300 metros do destacamento, existiam umas quedas de água de rara beleza. Junto à ponte do rio Loge, na margem, era normal ver-se crocodilos.

Recordo-me de um desses patrulhamentos, em que o meu grupo de combate, comandado pelo alferes Costa, infelizmente já falecido, tinha como missão dar protecção a um grupo de civis franceses, da TOTAL, que andavam a fazer prospecção de pretóleo na zona do Ambriz. No regresso da missão, o meu unimog, que era o último da coluna, seguia atrás do unimogo do alferes Costa. Este alferes tinha por hábito andar com um dilagrama na G3. Nesse dia ao passar por baixo de uma árvore, o dilagrama embateu num dos ramos, caindo. O alferes Costa, ao aperceber-se ainda mandou parar o condutor, que felizmente só deteve a viatura alguns metros mais adiante. Quando o unimog onde eu seguia ia a passar no local onde o dilagrama caiu, deu-se a explosão da granada, ouviu-se um enorme estrondo e viu-se uma pequena bola de fogo. Pensámos tratar-se de um ataque, saltámos da viatura em andamento e preparávamo-nos para a defesa, mas rapidamente o alferes se aproximou de nós a perguntar se havia alguém ferido e a explicar o que tinha acontecido. Por sorte, a granada caiu num buraco da valeta da picada e apenas a parte inferior do unimog foi atingida por pequenos estilhaços. Penso que a partir dessa data o alferes Costa nunca mais utilizou dilagrama na G3.

Para quem não sabe, o dilagrama era um dispositivo que conjuntamente com a granada de mão defensiva M/63 ao qual se fixava, permitia obter - utilizando a Espingarda Automática G3 - alcances superiores aqueles conseguidos pelo combatente, diminuindo assim o perigo para as nossas tropas. O Dilagrama permitia, ainda, bater ângulos mortos, sendo possível o seu emprego contra guerrilheiros abrigados. O cartucho propulsor sem bala, tinha uma carga de 2,2 gramas de uma mistura pólvora esférica e pólvora tipo 1, não se podendo empregar qualquer outro tipo de cartucho. Era um dispositivo muito eficaz, mas muito perigoso, porque ao ser utilizado na mata podia bater inadvertidamente num ramo de uma árvore , soltar-se do cano da G3 e explodir. Havia, ainda o perigo, de não ser usado, por engano, o cartucho sem bala e neste caso a granada explodia de imediato quando era disparada a G3. Houve muitos mortos e feridos na guerra do ultramar provocados pelo uso indevido deste dispositivo.

Porém, a boa vida acabou muito rapidamente. Embora a Companhia tivesse ficado sediada em Ambriz, como se tratava de companhia de intervenção, foi destacada para a região de Santa Cruz de Macocola, para dar protecção à Companhia de Engenharia que foi construir uma picada entre Santa Cruz de Macocola e a picada que ligava Quimbele a Quicua.

Última actualização em 2008-06-30
Franquelino Santos, Ex- Furriel Mil. da CART 2731