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Alguns de nós encontramo-nos há dias, em Alcácer do Sal, para mais um almoço convívio da CART 2731. Homens feitos e usados,.... que eram crianças nos idos de setenta, e se portaram como meninos heróis - cada um ao seu jeito....e na sua circunstância... Lembro bem os seus rostos e postura, na maioria imberbes, sorriso de orelha a orelha... ou de olhar baixo e amuado - de alguns, ainda lembro os nomes ou as alcunhas - de outros, uma difusa névoa confunde-me, deixa-me hesitante e nem o álbum das velhas fotografias do Fernandes, me permite combinar a cara com o nome. Lá estão.. sobre o fundo escuro das folhas do álbum, os rostos e poses da nossa inocência... Agora que escrevo estas linhas para ti: - penso que há muito não abro o velho álbum... Recordo que começa em Vendas Novas, passa por Évora e Lisboa, pelo paquete Funchal e espraia-se no fabuloso semestre do Funchal (cidade): - pela BAG2, pelo Lido, pelo Semeador, por Palheiro Ferreira e chega à Prainha.... |
Embarca no Timor e embebeda-se em êxtase na passagem do Equador ... só acorda à vista de S. Tomé aonde meio estremunhado se extasia sobre a amurada... o porto de Luanda deixa um travo amargo, um olhar vago algo indistinto que só se esbate no BO,
- o Grafanil os abacaxis as ruas da baixa libertam os meninos moços e os seus olhares - não recordo já se sós ou acompanhados pela G3...
Depois, a frustração nas camionetas de carga - como bestas - que se levam ao mercado, até Nova Lisboa... aonde o comboio a vapor se perdia em curvas de raio quase infinito, libertava no velho álbum expressões maduras de meninos velhos de um ano.... o Brito de riso rasgado já tinha barba... e a tez queimada do Barbosa enrugava-se expectante ou desconfiada - o Pimenta de mãos nos bolsos inchava sobre os galões...
O Luso, trouxe a realidade nua e crua voltamos às camionetas de carga e conhecemos as minas de nome e de angústia, daí para a frente o velho álbum como que escurece uns dias e liberta-se noutros.... quando a saudade me levar, vou abri-lo e prometo volto a escrever umas linhas para ti - caro Franquelino, a quem tenho a certeza - vou abraçar em Abril.
Coimbra Maio de 2009 - Guinapo, ex-furriel miliciano - (que não tem muito orgulho mas não tem vergonha ...- e se fosse hoje voltava a cumprir....alguns dizem hoje que fugir era mais difícil - eu tenho muitas dúvidas - o que sei é fugir foi muito mais proveitoso, pelo menos para os que fugiam sobre as mãos dos pais e do regime).